A história da música caipira e sertaneja no Brasil é permeada por um processo de embranquecimento, refletido não apenas nos ritmos, mas também nas imagens veiculadas. A predominância de artistas brancos nesses gêneros é evidente, especialmente quando se observa o topo das paradas de sucesso. Desde 1996, o top 10 das músicas mais tocadas do ano nas rádios não inclui um representante negro do sertanejo.
A dupla João Paulo e Daniel, em 1996, foi a última a quebrar essa barreira, alcançando a terceira posição com “Estou Apaixonado”. No entanto, a trajetória da dupla foi marcada por preconceitos, inclusive sugestões para que Daniel se unisse a outro parceiro branco antes do estouro da carreira.
Outros artistas sertanejos negros, como Rick, parceiro de Renner, e Kleo Dibah e Thácio, também relataram situações de racismo ao longo de suas carreiras. Essas histórias revelam a existência de um cenário majoritariamente branco na música sertaneja, com uma representação limitada de artistas negros.
O jornalista André Piunti destacou casos de discriminação vividos por Rick, incluindo um episódio em que uma fã se recusou a tirar uma foto com ele por ser negro. A resistência à presença de artistas negros em determinados eventos, como relatado por João Paulo em uma situação em que um clube de elite cancelou um show ao descobrir que havia um negro na dupla, ilustra a persistência do preconceito racial.
A presença limitada de artistas negros na música sertaneja levanta questões sobre o embranquecimento desse gênero ao longo dos anos. Marcos Queiroz, professor do Instituto Brasiliense de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), e membro do Centro de Estudos em Desigualdade e Discriminação (CEDD/UnB), sugere a hipótese de que o sertanejo precisou “embranquecer” para se nacionalizar, refletindo o enigma racial brasileiro.
Para mudar esse cenário, é essencial promover a diversidade e garantir oportunidades equitativas para artistas de diferentes origens étnicas. Iniciativas que valorizem a representatividade e combatam o preconceito são fundamentais para construir um ambiente mais inclusivo na música sertaneja e caipira.
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